Um grupo composto por mais de 40 deputados federais que apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) planeja apresentar um pedido de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Isso ocorre em resposta às declarações de Lula no domingo (18), onde ele comparou o conflito entre Israel e a Palestina ao Holocausto.
Os deputados referem-se a um trecho da lei que embasa os crimes de responsabilidade para fundamentar o pedido. Segundo o texto, é considerado crime “cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade”.
Os parlamentares afirmam que a declaração de Lula é “injustificável, leviana e absurda”.
“É uma afronta aos judeus, aos descendentes do horror do nazismo e algo que só fomenta o crescimento do antissemitismo no Brasil”, diz o texto.
— Não se pode comparar o incomparável. Nada se compara à maior tragédia da humanidade, que foi o Holocausto e que vitimou 6 milhões de judeus, além de diversas minorias — disse Carla Zambelli (PL-SP), uma das signatárias.
Em Adis Abeba, na Etiópia, Lula afirmou que não há paralelo além do que está ocorrendo em Gaza, exceto pelo que foi feito durante a Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
— O que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus — declarou Lula.
Segundo o especialista em Direito Eleitoral Alberto Rollo, para configurar o crime de responsabilidade, é necessário mais do que apenas o discurso de Lula.
— Entendo que para caracterizar o tipo da lei tem que ter mais do que discurso ou opinião. Teria que ter envio de armas, soldados, ajuda para a manutenção do conflito. Entendo que comprometer a neutralidade é efetivamente se engajar por um dos lados. Por enquanto foi só discurso — afirmou.
Essa não foi a única reação proveniente do Congresso. No Senado, o grupo parlamentar Brasil-Israel da Casa condenou e rotulou o pronunciamento de Lula como “tendencioso e desonesto”.
A fala também foi condenada pelo primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu, e por entidades judaicas no Brasil, como a Confederação Israelita do Brasil (Conib). Para a Conib, a declaração do presidente foi uma “distorção perversa da realidade” e “ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes”. (confira na íntegra abaixo).
Benjamin Netanyahu disse que “comparar Israel ao Holocausto nazista e Hitler é cruzar uma linha vermelha”. Trata-se de uma reação a fala do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.
“As palavras do presidente do Brasil são vergonhosas e sérias. São sobre banalizar o Holocausto e tentar ferir o povo judeu e o direito Israelense de se defender”, declarou Netanyahu em seu perfil no X (antigo Twitter).
Confira na íntegra a nota da Confederação Israelita no Brasil
“A Conib repudia as declarações infundadas do presidente Lula comparando o Holocausto à ação de defesa do Estado de Israel contra o grupo terrorista Hamas. Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista que invadiu o país, matou mais de mil pessoas, promoveu estupros em massa, queimou pessoas vivas e defende em sua Carta de fundação a eliminação do Estado judeu. Essa distorção perversa da realidade ofende a memória das vítimas do Holocausto e de seus descendentes.
O governo brasileiro vem adotando uma postura extrema e desequilibrada em relação ao trágico conflito no Oriente Médio, abandonando a tradição de equilíbrio e busca de diálogo da política externa brasileira. A Conib pede mais uma vez moderação aos nossos dirigentes, para que a trágica violência naquela região não seja importada ao nosso país.”