(67) 9 9123-6297 | ocontribuintebr@gmail.com

Pesquisar
Close this search box.

Quase 10 milhões de jovens nem estudam e nem trabalham no Brasil

O Brasil possui 9,6 milhões de jovens que não trabalham e também não estudam. Conhecido como grupo “nem-nem”, esse número representa 19,8% das pessoas de 15 a 29 anos.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) de 2023. A pesquisa foi divulgada nesta sexta-feira, 2, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os números mostram uma redução no grupo de jovens que estão sem estudar e trabalhar. A diminuição, no entanto, está longe de ser algo positivo. Em 2019, 22,4% da população na faixa etária de 15 a 29 anos fazia parte do grupo “nem-nem”. Em 2022, caiu para 20%. Em 2023, teve uma leve queda, de 0,2%.

Divulgado pelo IBGE, o relatório do Pnad também mostra que nem todos os jovens conseguem se dedicar exclusivamente aos estudos e ter acesso a um ensino de qualidade — causando, na maioria das vezes, a evasão escolar do indivíduo.

Os homens entrevistados relataram que o principal motivo para não estudarem é a necessidade de trabalhar — embora nem sempre consigam encontrar uma fonte de renda.

As mulheres disseram que a necessidade de realizar tarefas domésticas também é um impeditivo na hora de estudar. Cuidar de alguém e gravidez entram na lista de fatores que afastam o público feminino das instituições de ensino.

As mulheres, inclusive, são maioria no grupo de pessoas que nem trabalham e nem estudam. A pesquisa mostra que 25,6% das mulheres nessa faixa etária estão nessa situação — 11,4% a mais quando comparado ao público masculino.

De acordo com o relatório, 24% das pessoas com idade de 18 e 24 anos não estudam nem trabalham. “Percentual alto para a juventude de uma geração mais escolarizada”, diz o documento.

Pesquisador do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Michael França demonstrou preocupação quanto ao alto índice de jovens que não trabalham e nem estudam. “É muito preocupante ter 20% da população jovem, no auge da produtividade, sem uma perspectiva de futuro”, afirmou. “Ainda mais considerando que a população do país está envelhecendo. O Brasil não está se atentando para um grave problema social que está acontecendo agora e que vai levar a consequências drásticas a médio e longo prazo.”

É possível melhorar a situação dos jovens no ensino e no âmbito profissional?

Para muitos especialistas, a situação dos jovens pode ser resolvida. Entretanto, não são implementadas ações efetivas que acabem com o problema.

Segundo Jhonatan Almada, membro da Rede de Especialistas em Política Educativa da Unesco, a situação dos jovens sem trabalho e estudo é reflexo do descumprimento de pelo menos três metas do Plano Educacional de Educação (PNE).

“O país traçou uma série de metas educacionais que poderiam evitar a exclusão desses jovens”, afirmou Almada, sobre o PNE. “Mas na última década pouco foi feito para que esses objetivos fossem de fato alcançados.”

Segundo o especialista, as metas que não foram cumpridas são:

– Triplicar o número de matrículas da educação profissional técnica de nível médio — o objetivo era chegar em 2024 com 4,8 milhões de matrículas. No entanto, apenas 2,4 milhões foram realizadas;
– Assegurar que 25% das matrículas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) fosse integrada à educação profissional — atualmente, apenas 3,7% foram asseguradas; e
– Ter 50% da população entre 18 e 24 anos matriculada no ensino superior — atualmente, apenas 38,5% desse público está se graduando.

“O descumprimento dessas três metas nos ajudam a entender esse número chocante de jovens esquecidos, abandonados a um futuro sem perspectiva”, afirma Almada. “Mais grave ainda é o fato de não termos no país nenhuma política pública para enfrentar esse problema social.”