O governo do presidente Lula da Silva (PT) foi na contramão dos países da América do Sul e não se pronunciou até a manhã desta segunda-feira, 29, sobre a controvérsia reeleição do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro.
O Brasil tem adotado uma postura distinta dos países vizinhos ao não manifestar preocupação com suspeitas de fraude na eleição venezuelana.
Na América do Sul, apenas Bolívia, Guiana e Suriname compartilham dessa postura. Até governos de esquerda, como os de Gabriel Boric (Chile) e Gustavo Petro (Colômbia), foram mais críticos em relação a Maduro.
Milei diz que Argentina “não reconhecerá outra fraude” na Venezuela
O presidente da Argentina, Javier Milei, emitiu nesta segunda-feira 29 o reconhecimento da vitória da oposição da Venezuela. Milei pediu ainda que o presidente Nicolás Maduro deixe a presidência da República.
“Os resultados mostram uma vitória esmagadora da oposição e mundo aguarda que Maduro reconheça a derrota depois de anos de socialismo, miséria, decadência e morte”, declarou.
EUA temem que vitória da Maduro na Venezuela não reflita vontade do povo, diz Blinken
Os Estados Unidos têm sérias preocupações de que os resultados anunciados pela autoridade eleitoral da Venezuela, declarando que o presidente Nicolás Maduro conquistou um terceiro mandato, não refletem os votos do povo, disse o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, nesta segunda-feira (29).
Poucos minutos depois de a autoridade dizer que Maduro havia vencido a eleição presidencial, Blinken interrompeu comentários em uma reunião de nações do Indo-Pacífico para abordar o assunto.
“Vimos o anúncio há pouco tempo pela comissão eleitoral venezuelana. Temos sérias preocupações de que o resultado anunciado não reflita a vontade ou os votos do povo venezuelano”, disse Blinken.
Blinken disse nesta segunda-feira que a comunidade internacional estava observando de perto e responderia adequadamente.
“É fundamental que cada voto seja contado de forma justa e transparente, que as autoridades eleitorais compartilhem informações imediatamente com a oposição e os observadores eleitorais, sem demora, e que as autoridades eleitorais publiquem a tabulação detalhada dos votos”, disse ele.
Lula retomou relações com Venezuela
Com a volta do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder em 2023, Brasil e Venezuela reataram relações, rompidas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Naquela época, o Itamaraty, sob Ernesto Araújo, reconhecia Juan Guaidó como o legítimo representante venezuelano.
Sob a liderança de Mauro Vieira e Celso Amorim, o Brasil trabalhou para reconstruir laços com Maduro. Empresas brasileiras têm dívidas de aproximadamente US$ 1,27 bilhão com a Venezuela.
Em 2023, Brasil, Colômbia, Estados Unidos e União Europeia mediaram um acordo para eleições livres na Venezuela, em troca da suspensão de sanções.
No entanto, Maduro desafiou essas negociações ao proibir a líder opositora María Corina Machado de concorrer à Presidência e dificultar a participação de outros candidatos e eleitores no exterior.
No final do ano passado, Maduro organizou um plebiscito para anexar parte da Guiana reivindicada pela Venezuela, o que aumentou a tensão militar. A diplomacia brasileira evitou condenar explicitamente essa ação. Com a mediação de Lula e Gustavo Petro, Venezuela e Guiana se comprometeram a resolver a disputa pacificamente em uma cúpula no Caribe.
Até março deste ano, o Brasil também relutou criticar os abusos de Maduro, mas o Itamaraty condenou a proibição de Corina Yoris de substituir María Corina Machado.
Desde então, Maduro passou a ver Lula com desconfiança e chegou a ironizar o presidente brasileiro, sugerindo que ele “tomasse chá de camomila” depois de ameaçar um “banho de sangue” caso perdesse a eleição.
O líder venezuelano também criticou o sistema eleitoral brasileiro, levando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a suspender o envio de uma missão ao país.