Dos sete desembargadores alvos da Operação Ultima Ratio, que apura um esquema de venda de sentenças, corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes, apenas dois prestaram depoimento à Polícia Federal. Os demais adotaram estratégias para adiar ou evitar as oitivas, em um dos maiores escândalos já investigados no Judiciário estadual.
Segundo relatório encaminhado pelo delegado Marcos André Araújo Damato ao ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal, apenas os desembargadores Sérgio Fernandes Martins, ex-presidente do Tribunal de Justiça, e Sideni Soncini Pimentel, que chegou a ser eleito presidente da Corte, responderam às perguntas dos investigadores.
Outros três desembargadores solicitaram o adiamento dos depoimentos até que tivessem acesso aos materiais eletrônicos apreendidos durante a operação. Já os desembargadores aposentados Júlio Roberto Siqueira Cardoso e Divoncir Schreiner Maran compareceram, mas invocaram o direito constitucional ao silêncio e se recusaram a responder qualquer questionamento da PF.
O caso de Cardoso chamou atenção por um detalhe simbólico e revelador: foram encontrados R$ 2,7 milhões em dinheiro vivo em sua residência durante a deflagração da operação, no dia 24 de outubro do ano passado. Já Divoncir Maran é reincidente em escândalos e também figura como investigado na Operação Tiradentes. Entre os episódios sob apuração, está a concessão de habeas corpus, sem qualquer exigência de exame médico, ao narcotraficante Gerson Palermo — condenado a 126 anos de prisão e apontado como liderança do PCC.
O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Osmar Domingues Jeronymo, citado nas investigações, apresentou atestado médico para justificar sua ausência, mesmo sendo convocado para depoimento por videoconferência. Seus dois sobrinhos, também envolvidos no inquérito, informaram que só falarão em juízo. O advogado Carlos Marques, por sua vez, optou por enviar uma manifestação por escrito.
Outro personagem central do escândalo, o advogado Félix Jayme Nunes da Cunha, apontado como um dos principais operadores do suposto esquema de venda de decisões judiciais, também permaneceu em silêncio durante o interrogatório.
A Operação Ultima Ratio, conduzida pela Polícia Federal com autorização do STF, investiga a atuação de uma organização criminosa formada por agentes públicos e operadores do Direito, que atuariam nos bastidores do Judiciário negociando decisões judiciais em troca de propina e favores.