O ex-ministro Gonçalves Dias, que chefiava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Lula, deu a ordem para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) adulterar um relatório oficial enviado ao Congresso Nacional e omitir do documento os alertas da agência a ele próprio sobre a ameaça de invasão aos prédios dos Três Poderes, em Brasília que, de fato, ocorreu em 8 de janeiro. A informação é do jornal Folha de S.Paulo em reportagem publicada na edição desta quarta-feira, 14.
O relatório, sem as mensagens a Dias, foi enviado à Comissão de Atividades de Controle de Inteligência (CCAI) do Congresso, em 20 de janeiro, e continha as mensagens disparadas entre 2 e 8 de janeiro pela Abin a diversos órgãos e autoridades. Na primeira versão do documento não constavam os informes enviados diretamente ao celular de Dias, pelo aplicativo de mensagens WhatsApp. No total, 11 alertas enviados ao general foram suprimidos do primeiro documento.
Segundo a Folha, o ex-ministro mandou omitir esses informes de uma minuta submetida previamente a ele com o argumento de que essa troca de informações não ocorreu por canais oficiais. O jornal informa que, ao receber essa minuta, Dias determinou que o relatório encaminhado ao Congresso contivesse apenas as informações distribuídas em grupos de WhatsApp. A planilha completa ficou nos arquivos da agência de inteligência.
Essa decisão competia ao general, uma vez que, pela lei que instituiu o chamado Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin), documentos sobre as atividades e os assuntos de inteligência produzidos pela Abin somente podem ser fornecidos às autoridades pelo chefe do GSI.
Gonçalves Dias, antigo aliado de Lula, que trabalhou na segurança do petista nos dois primeiros mandatos e na campanha de 2022, pediu exoneração do GSI em 19 de abril, depois de imagens obtidas pela CNN — até então sob sigilo decretado pelo governo — mostrarem que ele estava dentro do Planalto e interagiu com os vândalos que depredaram o prédio.
Quando Dias deu a ordem, a Abin era chefiada pelo oficial de inteligência Saulo Moura da Cunha. Em março, ele deixou o cargo e passou a ocupar uma função no GSI, sob o comando de Dias. Entretanto, pediu exoneração há duas semanas, em 1º de junho.
O segundo relatório, com os 11 alertas ao ex-ministro, só chegou ao Congresso no mês passado, por meio de um novo relatório da Abin. De acordo com a Folha, o segundo documento foi entregue à CCAI de forma espontânea pela direção atual da Abin depois que a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou os informes. Nesta época, Dias já não era mais o chefe do GSI, que estava sob o comando da Casa Civil.
Em nota, o advogado André Callegari, que defende o general, afirmou que não pode dar entrevista sobre o assunto, mas tem respondido a todas as investigações oficiais.
Com informações Revista Oeste