A presença de um dos líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) João Pedro Stedile na comitiva brasileira que viajou à China será investigada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST.
Os membros do colegiado da CPI do MST aprovaram na quarta-feira 14 um requerimento para obter informações sobre quem acompanhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem, quando o petista se encontrou com o líder do Partido Comunista, Xi Jinping.
Na época, Stedile havia participado do encontro. O líder sem-terra afirmou que naquele mês haveria “mobilizações em todos os Estados, marchas, vigílias, ocupações de terra” para a desapropriação do que ele chamava de “latifúndios improdutivos”.
A presença do militante na comitiva da viagem presidencial à China irritou a Frente Parlamentar Agropecuária, que ajudou a colher assinaturas e a instaurar a CPI do MST. O colegiado também aprovou requerimento para disponibilizar todo o material de CPIs anteriores que investigaram o MST desde 2006.
“Muito do trabalho, da metodologia de financiamento, modus operandi das invasões já está naquelas investigações. Saber isso já nos permite avançar muito”, disse o relator da comissão, Ricardo Salles (PL-SP).
A CPI) do MST ouviu no final de maio dois ex-integrantes do movimento. Nelcilene Reis e Ivan Xavier foram convidados para prestar esclarecimentos no colegiado. O casal fez parte do MST por três anos, entre 2016 e 2019, em uma invasão localizada em Brasília.
“Saímos do movimento, pois não aceitávamos a maneira como éramos tratados”, explicou Nelcilene durante a CPI do MST. “Éramos massa de manobra do movimento. Eu trabalhava de graça na parte financeira do mercadinho do MST, das 8 horas da manhã até às 17 horas.”
Segundo a ex-integrante, todo o dinheiro arrecadado no comércio era recolhido pelas lideranças locais. “O valor não era pouco”, explicou. “Os líderes do movimento passavam também em nosso ‘barraco’ para pedir dinheiro ou coisas, como comida. Uma vez, me pediram carne, mas eu só tinha frango.”
Nelcilene também falou pelo marido — que preferiu ficar calado. Conforme a ex-integrante do MST, era proibido deixar música alta tocando até determinado horário. Contudo, uma vez, ela cometeu esse equívoco e ameaçaram derrubar o “barraco” do casal.
A mulher chegou a ser encurralada no local onde morava por líderes do MST para que saísse da propriedade invadida, mas conseguiu ficar — mesmo que contra a vontade dos coordenadores.
Ao lado do marido, Nelcilene chamou a polícia para não ser expulsa da invasão. Na ocasião, os líderes foram expulsos do local. “Se a polícia não tivesse chegado, eu e meu marido estaríamos mortos. Tenho certeza. Nós éramos o alvo.”
No local, atualmente, o casal lidera uma associação dos produtores rurais. Agora eles têm CNPJ e os moradores contrataram um advogado para auxiliar nas questões judiciais. No entanto, nenhum deles tem titulo de propriedade ainda.