A Operação Ultima Ratio, deflagrada pela Polícia Federal em outubro de 2024, revelou o uso recorrente de grandes quantias em dinheiro vivo por desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), levantando suspeitas de venda de sentenças e enriquecimento ilícito.
Um dos principais alvos é o desembargador Alexandre Aguiar Bastos, afastado desde 24 de outubro. Segundo a PF, ele realizou transações em espécie que somam pelo menos R$ 276 mil entre 2022 e 2024, sendo que apenas R$ 57 mil foram sacados de suas contas — deixando R$ 219 mil com origem não comprovada.
Bastos teria adquirido bens como um jet ski, carros de luxo e imóveis, com pagamentos parciais feitos em espécie e alguns não declarados no Imposto de Renda. Em 2023, apesar de declarar apenas dois veículos, foram identificadas compras de um Fiat Argo (R$ 85,8 mil), um Chery Tiggo 8 (R$ 201,9 mil) e uma moto aquática (R$ 97,9 mil). Conversas extraídas do celular do magistrado indicam pagamentos em dinheiro nas negociações.
As investigações indicam que o dinheiro usado pode ter origem na venda de decisões judiciais em favor do conselheiro do TCE-MS, Osmar Jeronymo, em uma disputa fundiária em Maracaju. A PF afirma que Bastos também recebia repasses do escritório da filha, Camila Bastos, que teria movimentado valores superiores à sua capacidade financeira, com origem em órgãos públicos.
Além de Bastos, são investigados os desembargadores Marcos José de Brito Rodrigues, Sideni Soncini Pimentel, Vladimir Abreu da Silva, Sérgio Fernandes Martins, e os aposentados Divoncir Schreiner Maran e Júlio Roberto Siqueira Cardoso — este último com R$ 2,7 milhões encontrados em espécie.
O advogado Félix Jayme Nunes da Cunha é apontado como operador do esquema, que também envolveria falsificação de escrituras e extorsão. Todos os envolvidos foram afastados de seus cargos em outubro, exceto Sérgio Martins, que retornou ao TJMS durante sua gestão como presidente.