A deputada trans Erika Hilton (PSOL) cancelou uma viagem oficial aos Estados Unidos após receber um visto diplomático com a marcação de gênero masculino, contrariando seus documentos brasileiros, que a reconhecem legalmente como mulher. O caso, revelado pela Folha de S.Paulo, nesta quarta-feira, gerou forte repercussão e será levado pela parlamentar à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
Segundo Erika, o episódio configura transfobia institucional por parte do governo norte-americano. Ela afirma ter apresentado à embaixada dos EUA no Brasil toda a documentação oficial que comprova sua identidade de gênero — incluindo certidão de nascimento retificada e passaporte diplomático, ambos com o gênero feminino.
“Não se trata apenas de um caso de transfobia. Se trata de um documento sendo rasgado sem o menor tipo de pudor e compromisso. Irei acionar o presidente Donald Trump judicialmente na ONU e na Comissão Interamericana de Direitos Humanos”, declarou a parlamentar à Folha.
A deputada trans participaria, neste sábado (12), de um painel na Brazil Conference, evento organizado por brasileiros da Universidade Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). A viagem, autorizada pela Câmara dos Deputados como missão oficial, foi cancelada por medo do tratamento que poderia receber das autoridades americanas, diante da divergência entre seu nome feminino e o gênero masculino registrado no novo visto.
“Me senti violada, desrespeitada e senti as competências do meu país sendo invadidas por uma pessoa completamente alucinada, um homem doente que ocupou a presidência da República dos EUA e se sente dono da verdade”, afirmou Erika.
O visto anterior da parlamentar, emitido em 2023, continha corretamente a identificação com o gênero feminino. Ela alega que não houve qualquer mudança em seus dados ou no formulário preenchido para a solicitação do novo visto.
A gestão Trump tem adotado medidas que restringem o reconhecimento de identidades de gênero. Em janeiro, uma ordem executiva assinada no primeiro dia de governo passou a reconhecer apenas os gêneros “masculino” e “feminino” em formulários oficiais, excluindo qualquer referência à identidade de gênero. A administração também suspendeu a emissão de passaportes com a marcação “X” para pessoas não binárias, revogando política implementada sob o governo Biden.