Conversas interceptadas pela Polícia Civil de Mato Grosso do Sul revelaram detalhes constrangedores sobre o suposto esquema de corrupção envolvendo o ex-secretário-adjunto de Educação do Estado, Edio Castro. Segundo as investigações, ele teria exigido propinas de empresários para liberar pagamentos e facilitar contratos com a administração pública.
Os diálogos captados com autorização judicial mostram que, em meio às cobranças de valores indevidos, Edio foi qualificado por um interlocutor como “muito fominha”, expressão utilizada para indicar excesso de ganância. A investigação aponta que o ex-adjunto teria sistematicamente exigido vantagens ilícitas de fornecedores, inclusive ameaçando interromper repasses caso os pagamentos não fossem realizados conforme solicitado.
Detalhes da Operação Vox Veritatis
A apuração policial faz parte da Operação Vox Veritatis, deflagrada com o objetivo de desarticular um esquema de corrupção instalado dentro da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul (SED).
Coordenada pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), com apoio da Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor), a operação cumpriu 15 mandados de busca e apreensão e 7 mandados de prisão temporária em Campo Grande e outros municípios do estado.
As investigações, que já duravam cerca de seis meses antes da deflagração, apontam indícios de crimes como:
- Corrupção passiva
- Organização criminosa
- Peculato
- Lavagem de dinheiro
Segundo os relatórios da investigação, Edio Castro desempenhava papel central no suposto esquema, atuando diretamente na intermediação de contratos da pasta com empresas fornecedoras de materiais e serviços. O grupo suspeito teria atuado para superfaturar contratos e, em troca, recebia pagamento de propinas.
Conversas interceptadas
Em uma das conversas interceptadas, que integra o inquérito policial, um dos empresários investigados relata que “ele (Edio) é muito fominha, quer tudo pra ele”, em referência ao comportamento do ex-adjunto ao cobrar valores supostamente além do combinado. Em outro trecho, Edio pressiona um fornecedor, insinuando que, caso não houvesse pagamento, o contrato não seria renovado nem os valores devidos seriam liberados.
As interceptações foram autorizadas pelo Juízo da 3ª Vara Criminal de Campo Grande, após parecer favorável do Ministério Público.
Histórico de Edio Castro
Edio Castro atuou como servidor de carreira da área de administração escolar e, desde 2023, ocupava o cargo de secretário-adjunto de Educação de Mato Grosso do Sul. Era considerado um dos principais auxiliares da titular da pasta e participava diretamente das decisões estratégicas e operacionais.
Sua trajetória no serviço público inclui passagens por cargos técnicos e administrativos, sempre vinculados à área educacional. No entanto, sua ascensão para o comando adjunto da SED teria proporcionado a influência necessária para, segundo as investigações, articular o esquema de cobrança de propinas.
Ele foi exonerado do cargo em 25 de abril de 2025, dois dias após a deflagração da operação, por determinação do governador do estado.
Defesa e providências
Até o momento, Edio Castro não se manifestou publicamente sobre as acusações. Sua defesa ainda não apresentou petições formais no inquérito.
A Secretaria de Estado de Educação afirmou, em nota oficial, que colabora com as investigações e que instaurou um procedimento interno de apuração para revisar todos os contratos firmados entre 2022 e 2025.
O Ministério Público Estadual avalia apresentar denúncia formal nos próximos dias, o que pode levar à abertura de uma ação penal contra os envolvidos.
Próximos passos
A Polícia Civil continua a análise do material apreendido, que inclui computadores, celulares, documentos financeiros e agendas. A expectativa é de que o relatório final da investigação seja concluído até o final de junho de 2025, quando deve ser remetido ao Ministério Público para as providências cabíveis