Um relatório parcial da Controladoria-Geral da União (CGU) levantou suspeitas de que Juscelino Filho, Ministro das Comunicações e ex-deputado federal, foi beneficiado por uma obra de pavimentação financiada por emendas parlamentares que ele mesmo destinou. Segundo o documento, que a Folha de São Paulo teve acesso, a obra está localizada em Vitorino Freire (MA), região administrada pela irmã do ministro, a prefeita Luanna Rezende.
A CGU confirmou a existência do relatório, mas manteve seu conteúdo sob sigilo. “Não se trata de relatório finalizado, apenas um documento que a CGU elaborou em subsídio a uma investigação na PF. A peça faz parte de um procedimento que está ainda em sigilo”.
De acordo com investigações da Polícia Federal (PF), Juscelino Filho direcionou R$ 10 milhões em emendas durante seu mandato como deputado para beneficiar diretamente sua fazenda no Maranhão. Especificamente, uma emenda de R$ 2,56 milhões entre 2017 e 2019 foi utilizada para recuperar uma estrada vicinal que conecta a cidade de Vitorino Freire a uma propriedade da família do ministro, conhecida como Fazenda Alegria. A obra foi realizada pela empresa Arco Construção, indicada como sendo de propriedade oculta do ministro.
O relatório da CGU corroborou as suspeitas da PF, indicando que dos 23,1 km de estrada pavimentada, 18,6 km, cerca de 80%, beneficiariam diretamente as propriedades do parlamentar. “Os restantes 4,5 km beneficiariam cinco povoações locais e ainda de forma isolada, sem integração com a rodovia estadual, nem com a sede do município”, detalha o documento.
Apesar das acusações, o ministro defendeu a obra, afirmando à Folha que a estrada “conecta 11 povoados, onde centenas de pessoas sofrem, diariamente, com grandes desafios para se locomoverem ao trabalho, escolas, hospitais e postos de saúde, especialmente durante períodos chuvosos, quando a via se torna intransitável, isolando essa população. Portanto, acima de tudo, é um bem do povo de Vitorino Freire e sua pavimentação é uma demanda antiga da população”.
Em resposta às suspeitas, a Codevasf suspendeu os repasses e iniciou uma auditoria na obra. “Em que pese a estatal esteja agindo com diligência ao suspender repasses e promover uma auditoria, ainda resta cerca de R$ 1,5 milhão em potencial risco de desvio de finalidade, dado que o objetivo social e o interesse público do citado convênio não se aparentam contemplados no projeto apresentado”, conclui outro trecho do relatório da CGU.
Foto: Reprodução Diário do Poder