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TSE pede mais provas e adia desfecho do caso de Jorge Seif

Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, senador pode ter seu mandato cassado

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) adiou nesta terça-feira, 30, o julgamento que vai definir o futuro político do senador bolsonarista Jorge Seif (PL-SC). Ele é réu por abuso de poder econômico nas eleições de 2022 e pode ter o mandato cassado.

O ministro Floriano de Azevedo Marques, relator do processo, defendeu a conversão do julgamento em diligência para a complementação das provas do processo, o que na prática adia o desfecho da ação.

Para o ministro, há uma confusão nas provas, o que deixa “grande margem de dúvida” e impede uma “conclusão firme e segura” sobre o caso.

– Dadas as consequências graves de um aije [ação de investigação judicial eleitoral], a prova a embasar a decisão condenatória não pode ser aquela que torna apenas plausível a tese ventilada pelo representante. Há que se ter uma prova consistente – afirmou.

O ministro culpou a Coligação Bora Trabalhar (PSD, Patriota e União Brasil), que deu entrada no processo contra o senador, o Ministério Público Eleitoral de Santa Catarina e a desembargadora Maria do Rocio, relatora do caso no Tribunal Regional Eleitoral, por “não desempenharem suficientemente o ônus e o encargo de perseguir a prova ampla e suficiente”.

– O que há é uma prova parcial e precariamente produzida – destacou.

O senador também foi alvo de críticas por mudar as justificativas ao longo do processo.

– Não ajuda em nada a linha de defesa randômica – ressaltou.

Apenas o ministro Raul Araújo, corregedor da Justiça Eleitoral, divergiu da proposta.

– Me parece que estaríamos, na verdade, reinstalando a instrução processo. Acho que não podemos chegar a tanto nesta sede de recurso – explicou.

Secretário Nacional da Pesca e Aquicultura no governo Jair Bolsonaro, Seif foi eleito senador em 2022, com 1.484.110 votos, o que representa 39,79% dos votos válidos. O segundo colocado teve 608.213 votos.

Se for condenado, Jorge Seif ainda pode recorrer ao próprio TSE e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ele foi absolvido por unanimidade no Tribunal Regional Eleitoral em Santa Catarina.

Por que Jorge Seif é réu?

O senador é acusado de receber doações irregulares dos empresários Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, Osni Cipriani, da construção civil, e Almir Manoel Atanázio dos Santos, presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados da cidade de São João Batista.

A legislação eleitoral proíbe o financiamento privado de campanha. As doações teriam sido feitas na forma de viagens em aeronaves da Havan e de Osni Cipriani, do uso da estrutura de comunicação da empresa de Luciano Hang para promover sua candidatura, além do financiamento de propaganda eleitoral pelo sindicato.

O Ministério Público Eleitoral (MPE) é a favor da condenação do senador. Em seu parecer, o vice-procurador Eleitoral Alexandre Espinosa Bravo Barbosa defendeu que as doações criaram “desigualdade de competição” em relação aos outros candidatos.

– Os fatos, que formam um conjunto (que não pode, nem deve ser avaliado isoladamente) reiterado de abuso de poder econômico vedado pela legislação eleitoral e que ocorreram no caso – apontou a manifestação do MP.

Quais são as provas complementares exigidas pelo TSE?

O principal ponto de dúvida do TSE é sobre os voos custeados pela Havan. Por isso, os ministros decidiram notificar a rede para que apresente, em até 48 horas, os prefixos de todas as aeronaves usadas pela empresa ou que estivessem à disposição de Luciano Hang, entre janeiro de 2022 a março de 2023.

Com os dados em mãos, o Tribunal Superior Eleitoral vai solicitar aos aeródromos, aeroportos e helipontos das cidades por onde Jorge Seif passou na campanha para que compartilhem a lista de decolagens e aterrissagens.

– Para que esse tribunal possa emitir uma decisão condizente com a gravidade das penalidades previstas na legislação para a espécie, seja também para que possa dar por exercida sua jurisdição investigativa própria a uma aije, e concluir pela improcedência, é mister que se complemente a prova produzida nos autos – concluiu Floriano Marques.

O que o TRE decidiu?

O Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina livrou o senador da ação, em novembro de 2023. Os desembargadores se dividiram em duas correntes. A primeira composta pelos que não viram provas “incontroversas” para embasar as acusações. A segunda considerou que, apesar da “transgressão”, a normalidade das eleições não foi afetada. Todos votaram pela absolvição.

O que diz a defesa?

A defesa afirma que Jorge Seif é vítima de uma “narrativa especulada” e nega as acusações. “A prova que se pretendeu produzir veio negativa, mas a narrativa segue. É quase que uma desinformação processual”, reagiu a advogada Maria Claudia Bucchianeri, que foi ministra do TSE, ao apresentar os argumentos finais.

Veja o que pesa contra Jorge Seif:

– Cessão de helicóptero de Osni Cipriani para deslocamentos na campanha;

– Uso da estrutura material e pessoal da Havan – transporte aéreo, canais oficiais da empresa para veiculação de campanha, sala de gravação de lives e vídeos para redes sociais e ocupação de funcionários;

– Financiamento de propaganda eleitoral pelo sindicato por meio da participação na 21ª Semana de Indústria Calçadista Catarinense, em São João Batista.

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado